quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Estátuas


Como uma explosão nuclear
Atingindo alturas inesperadas,
Nós permanecemos neste lugar
Como umas estátuas inacabadas.

O corpo e o rosto
Ainda estão por acabar,
Pois fazer o sol posto
Não é algo fácil de se desenhar.

Nestas estátuas sem vida
Desenho almas de vidas passadas;
Com cada alma mais perdida
Que me deixa as mãos cansadas.

Por entre estes olhares arrendondados
Repletos de angústia e de mágoa,
Neles são contornados
O espelho de cada estátua.

Negar os acontecimentos
Desta pobre realidade,
É negar os sentimentos
Destas almas sem vaidade.

E como o pó viaja através do vento,
Ali ficaram, tipo estátuas, sem qualquer acabamento..

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Hoje, fico em casa.

Hoje decidi ficar em casa.
Acordei de manhã, com uma dor de garganta que já se tinha arrastado por todo o fim-de-semana. Usei essa mesma dor, para servir de pretexto para me deixar ficar em casa, para me deixar ficar na cama, o resto do dia. Não me apeteceu puxar os lençóis para trás, e levantar-me para ir tomar banho, seguido de vestir-me e fazer a mala para a escola, para dar início a mais uma semana monótona. A minha mãe bateu à porta, entrou, e perguntou-me:

- O que é que ainda estás a fazer deitado nada cama ?! Olha que já são 8.00h ..
- Acho que vou ficar em casa hoje, a dor de garganta ainda não melhorou, e como vês, mal consigo falar .. - respondi eu, com um tom de voz roco e baixinho. -
- Hmm.. Está bem, está bem, fica lá então, mas só por hoje ! - disse a minha mãe, já conhecendo as minhas manhas e percebendo logo que não me apetecia, levantar-me daquela cama. -

A porta fechou-se e fechei os olhos, para tentar dormir mais um bocadinho, mas o telemóvel tocou por volta das 9.00h (hora que normalmente, se dá início às aulas naquela escola). Vi que era um colega meu, que possivelmente estaria preocupado em saber a razão pela qual ainda não havia ter visto, a minha pessoa. Não atendi, não me apeteceu falar com ele. Mas ele não desistiu. Por volta das 10.30h (hora do intervalo da manhã), telefonou outra vez, e mais uma vez, não atendi. Adormeci, e só voltei a acordar lá pas 15.00h.
Foi bom, ter ficado em casa, ter feito o meu próprio fim-de-semana prolongado.
Foi bom, ter aumentado para 3 dias, o silêncio de um silencioso fim-de-semana.
Foi bom (:

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


E cá estou eu, mais uma vez, entrei, sentei-me, e em vez de tirar o caderno da respectiva disciplina, tirei outro ao acaso e comecei a escrever. Mais uma vez, deparo-me que estou completamente ausente daquilo que se está a passar dentro desta sala de aula, das conversas que estão a decorrer, das gargalhadas, das "boquinhas" que normalmente estão presentes em todas as aulas.
Estou ausente do habitual dia-a-dia decorrente nesta sala.
Sinto o corpo morto, leve como uma brisa inexistente. Sinto que estou numa luta constante, contra os meus próprios olhos, que lutam constantemente contra a minha vontade de querer que se mantenham permanentemente abertos, pelo menos até ao final da aula, para não levar uma falta desnecessária ou atrair atenções indesejadas.
Sinto a cabeça pesada, como se usasse uns brincos com umas 200 toneladas, cada um.

(..)

Finalmente, encostei o corpo à parede, fechei os olhos e encostei a cabeça à minha própria mão. Já não quero saber se levo falta ou que podem gozar comigo, por pensarem que posso estar a dormir. Quero sim, estar ausente desta monotonia, deste habitual dia-a-dia, que aos poucos, vai-me comendo.
A todo o milésimo, a todo o segundo, a todo o minuto e a toda a hora, sinto que estou a ser comido por esta miserável monotonia, e as dentadas são cada vez maiores, de dia para dia ..

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Páginas


Viro, viro, viro e vou virando páginas de uma vida, situadas num caderno imaturo, ainda por crescer. Crescer o seu número de páginas, crescer o seu vocabulário, e crescer o seu número de momentos que nele estão escritos, o número de inúmeras situações, que (ainda) estão para acontecer, que (ainda) espero que aconteçam.
Posso esperar e esperar um indeterminado tempo, à espera que tal livro se preencha, posso esperá-lo não fazendo absolutamente nada. Ou então posso fazer que tais páginas ganhem "cor", escrevendo-as eu mesmo:

Nestas páginas brancas
A escrita é iniciada;
Um escritor misterioso,
Uma escrita codificada.

Para o papel é transmitido,
A angústia do escritor;
Rimas, de certo, com sentido
E que explodem com ardor.

Nestas páginas traçadas
Com um azul azulado,
Escrevo memórias falhadas,
Que eu não consigo pôr de lado.

A intensidade da escrita é tanta
Que o papel é perfurado,
Só que esqueci-me que a tinta era branca..
E isso deixou-me descontrolado;

Acabei por partir a caneta
E rasgar estas páginas,
Elas reagiram à minha fúria
Transbordando suas lágrimas..

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

E assim se passou, outro dia..


É tempo de chuva. É aquele tempo em que para sair à rua, tem que ser acompanhado com umas quantas camadas de roupa e um guarda-chuva. E hoje, acordei com uma vontade de enorme de escrever, só não sabia sobre o quê.
As dúvidas cresceram, e quando foi hora de entrar para a sala de aula, entrei, sentei-me, e em vez de tirar o caderno da respectiva disciplina, tirei outro ao acaso.
Comecei por escrever rimas, sobre a chuva, sobre a água e sobre as gotas:

" A chuva cai, e as gotas molham,
Por entre a água eu sinto que nos olham.
Por todo o meu corpo eu sinto a chuva, toque onde tocar,
E ao meu ouvido, eu ouço-a a sussurrar: "

(..) mas depois, deixei-o a meio, e comecei por escrever este pequeno texto, sem qualquer significado, sem qualquer importância.
Passou-se mais um dia, e eu (mais uma vez) não lhe falei..
Não sei porque é que o faço, sinceramente, não sei.. talvez parvoíce minha.. "talvez" não, é mesmo parvoíce minha.
E eu quero tanto, mas tanto, dar-me melhor com ela. E também não gosto que as palavras entre nós, só sejam ditas virtualmente..
Eu sei, eu sei, que é isso mesmo, que tem acontecido, e principalmente por culpa minha, inteiramente, por culpa minha.

Falo tanto contigo, por aqui e por telemóvel, tanta palavras ditas que sinto que podíamos ficar um ano, a "conversar". Mas quando te vejo, uuui, aí, parece que não existem palavras, parece que já não sei "conversar" contigo. Dirigir-te a palavra parece fácil sabes, mas não é, não para uma pessoa como eu, que para dar o "primeiro passo" em certas situações, nem sei o que fazer..
Apenas consigo fixar o olhar, e nada mais, do que isso..

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Recomeçar de Novo


Imagina, que já foste um poeta famoso,
Que já foste alguém importante, e que agora estás num estado lastimoso.
Criavas novas rimas, tinhas outro pensamento,
As tuas rimas eram diferentes, tinham sentimento !
Eram fora do comum, eram originais,
E todas as outras pessoas as consideravam especiais.

Bom, imaginemos tudo isso, que eras especial,
Que eras poderoso, eras fora do normal.
Agora imagina, que aparecia alguém diferente,
Alguém que só te prejudicava, alguém delinquente.
Aparecia no teu mundo, e mudava-o por completo,
E vias que o que estava a acontecer, não era o mais certo.
Paravas por um momento, e metias-te a pensar,
Pensar no que fazer, para aquilo acabar.
Não havia opção possível, tudo se tornou num pesadelo,
Ele lutou para ser quem tu eras, e infelizmente.. acabou por sê-lo.

Roubou-te a carreira e roubou-te a personalidade,
Acreditas-te na palavra dele, e no entanto... era tudo falsidade.
Levou-te à ruína, e destruíu-te por inteiro,
E no final, não sobrou nada teu, apenas cinzas... caídas num cinzeiro.

Não é nada pessoal,
Mas o plano correu-te mal..
Foste superado, foste ultrapassado,
A tua vida agora faz parte de uma folha, de um caderno riscado.
Já não há solução,
Passas-te de original para uma falsificação.
Deixas-te a riqueza,
E passas-te para a pobreza, rodeada de tristeza..
Mas sabes, ainda existe alguma esperança,
Esquece tal vingança e põe-te numa balança.
Não foi a rima que fugiu de ti, foste tu que fugiste dela,
Junta-te a ela e será a tua salvação, (a tua cinderela).

Atenção, pois pode ser a tua saída,
E com ela, poderás recomeçar outra vida.
Mas há sempre um preço a pagar,
E começa-te já a preparar,
Pois para obteres essa vida, bastante terás, que batalhar..


Feito por mim, e pelo João.

sábado, 9 de janeiro de 2010

asdsasd

E enquanto caminho por entre estas pobres paredes, e à superfície deste vasto chão, sinto-me num mundo completamente diferente daquele que conheço.
Ouço as paredes a gritarem silenciosamente, sinto o chão a remoer-se de dor e ao mesmo tempo, sinto-o parado, como se nada tivesse acontecido. Eu não entendo o porquê destes inesperados gritos de angústia, vindos destas pobres paredes, e deste vasto chão, mas consigo perceber que algo não está bem, consigo entender e sentir a dor pela qual incansávelmente, não páram de gritar.

O caminho é escuro e inexistente, e o silêncio, é silenciosamente ensurdecedor.
Sinto-me observado por olhares, por milhares de olhares e ao mesmo tempo, por nenhum. Sinto que algo me observa mas também sinto, que estou ali, sozinho e abandonado, sem ninguém para me ajudar, e sem ninguém para perguntar o porquê de estar ali.
Sinto-me impotente ! Não consigo fazer nada, não consigo ver nada mas a vista que está posta perante mim, cega-me. Não consigo ouvir nada mas sei que já não aguento mais, ouvir estes gritos silenciosamente ensurdecedores, por favor, alguém que pare com isto !

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Início

Silenciosamente, o silêncio desvanece na escuridão de uma angústia. Deixando entre si, um rasto mortal de um grito silencioso que é capaz de ferir paredes imersas de sensações, de sentimentos, de conjugações e interrogações sobre como e o porquê, de inesperadamente, estarem ressentidas e inesplicávelmente, escoarem lágrimas de dor, lágrimas de sangue que quando atingem a superfície de um vasto chão tão cicatrizado como aquele que existe e persiste debaixo destas paredes silenciosamente barulhentas.
Que gritam incansávelmente, e que exigentemente ordenam a estagnação de tal silêncio angustiosamente angustioso, que penetra violentamente nos ouvidos inexistentes destas pobres paredes..




Isto é o início de um texto que (ainda) estou a fazer, como não tenho paciência para fazer logo tudo de uma vez, vou escrevendo aos poucos.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sobrenatural

Em tempos, quando era criança, tive, tanto nos dedos como no joelho e na orelha, aquilo a que se chama de "cravos", aquelas "bolhas"..
Era o que mais odiava na vida, não gostava, não gostava de me ver com aquilo, sentia-me esquisito..
Até um dia que os meus pais me disseram: "Meu filho. Reza, reza muito à Nossa Senhora, pede-Lhe que faça desaparecer esses malditos cravos, que tu tanto odeias."
A verdade, é que eu não acreditava em Deus, nem muito menos na Nossa Senhora, e ainda hoje não acredito.
Depois dos meus pais me terem dito aquilo, do dia para a noite, quando acordei na manhã seguinte, os tais "cravos", tinham subitamente desaparecido.. até me cheguei a questionar se o que me estava a acontecer, era algum sonho ou coisa do género, mas não.. era a realidade, aquelas coisas tinham-me desaparecido das mãos, do joelho e da orelha.

Mas eu conto o que aconteceu.
Não foi de nenhuma "fé" que (eventualmente) poderia, na altura, ter. Nada disso. Até porque eu não acreditava em nenhuma dessas "divindades".

Nessa mesma noite, eu tive um sonho/pesadelo. E ainda me lembro como se tivesse acontecido a noite passada. Nesse sonho/pesadelo, eu encontrava-me numa estrada, sozinho. Passado um tempo, começo a ouvir vozes, e a ver sombras. Eu não sabia o que era, tava assustado. Até que uma dessas sombras, se chegou atrás de mim, e me sussurrou as seguintes palavras:

- Tu queres que esses cravos desapareçam do teu corpo, não queres ?
- Sim quero, é o que mais quero nesta vida - respondi eu -
- Eu consigo fazer com que essas marcas desapareçam, mas para isso, terás que fazer um pacto..
- Que pacto ?!
- Se queres realmente que tais cravos, te desapareçam do corpo, se eu fizer com que isso aconteça, tu, terás que carregar um "fardo", para o resto da tua vida. E garanto-te, que não vai ser fácil..

E eu sem pensar duas vezes, aceitei tal "pacto". Eu nem sabia se aquilo estava realmente a acontecer, afinal, era só um sonho.. ou talvez um pesadelo ?
A verdade, é que na manhã seguinte, não tinha nada. Estava "livre" daquilo que mais me incomodava..
E ainda hoje, carrego tal "fardo", ainda hoje, todos os dias e todas as noites, para onde quer que vá, sinto-me observado, sinto-me "marcado" por olhares que eu sei, que não são pessoas, mas sim outra coisa.. Ainda hoje, eu me deito à noite, olho para o escuro, e vejo, sinto, que está alguém ali. Fico imóvel, com o olhar fixado para tal personagem, à espera que faça o mínimo movimento que seja..

Isto é bastante verdade, não estou maluquinho. Não estou a contar uma história que acabei de inventar. Não.. Isto aconteceu mesmo.
Mas também é verdade que, nós não estamos sozinhos neste mundo. Há mais alguma coisa, existe mais para além daquilo que conseguimos ver.