Sempre tentaste ajudar tudo e todos. Dar o corpo inteiro a quem só te pedia a palma da mão. De dar o conforto e o calor do teu abraço, a quem só queria um casaco. Sempre tiveste esse defeito; essa enorme falha. De chegares a uma festa, voltares-te para os teus amigos e dizeres que quem paga és tu. Seja a primeira, a segunda ou a última rodada. Depois, chegas a um ponto em que te começas a questionar. Com quem podes contar e com quem te podes fazer contar. Quem tem potencial para se tornar um bom amigo, e quem o tem para ser a tua companheira.
Começas a fazer estas deduções e escolhas porque não queres ficar sozinho. Ninguém quer, na realidade, ninguém o quer. É então que pegas num caderno e escreves. Descreves como és e como almejas ser. Organiza pensamentos, sentimentos e sensações. As tuas ideias, acabam por transformar as folhas dando-lhes um significado merecedor de vida. Passam a ser ordens no teu dia-a-dia; na forma como te vestes e na importância que dás a isso.
E escreves. Com ou sem fluência, escreves incansavelmente. Resistente nos teus objectivos, projectas a essência, ou a ciência, dos teus gritos interiores. Com o tempo, adquires uma invulgar mas discreta demência, que aos poucos, se vai tornando uma evidência na aparência desse caderno. Esse que te tira o prazo de validade dos pensamentos, que os torna eternos para quem os quer. (...)
Talvez esse caderno precise de uma história nova. Daquelas ardentes e flamejantes que fervilham por todas as páginas.