O relógio apita; são 7h da manhã.
Esta manhã.
Desta inquietante manhã, fresca.
Esta brisa gélida que me
enruga os dedos e que me irrita a garganta. A pele. Os ossos. Os olhos. O
peito. Esta brisa gélida gelada de ninguém, gelada de alguém. De cem encontros,
de cem mesas e de cem cadeiras, sem ninguém. De cem jarras mas, sem rosas. Sem
água cristalizada e tratada como o céu que por cima de nós acorda.
Como eu gostava que assim acordasses. Com um braço e uma
perna em cima de mim. Com os cabelos a fazerem-me comichão no queixo. Como eu gostava
de te ver… só com uma t-shirt minha.
Diz alguma coisa. Grita com toda a tua força e deixa que o
vento te traga até aqui. Deixa-me sentar-te na cadeira vazia. Não, deixa-me
sentar-te na mesa em cima deste caderno. Jogar a caneta ao chão e com as minhas
duas mãos, fazer pressão nas tuas cochas. Quero a tua impressão corporal nestas
folhas. Não, quero-a nas minhas mãos. Que desenrugues os dedos e confortes a
garganta. A pele. Os ossos. Os olhos. O peito. O meu peito.
Desculpa, não te conheço e está a ficar frio.
Vou voltar para dentro. Adeus.