Não é espanto que dê por mim cá fora, nas madrugadas de
Agosto. Que contemple no som das árvores o vento que de mim sopra. Das sobras
que ficam em mim por se esquecerem de raspar o fundo. Não é espanto.
O caderno vai ficando menos branco a cada solavanco emocional.
A cada minuto gasto sentado neste banco, cá fora, com as costas na diagonal.
Numa espiral intemporal que me tende a fazer desaparecer, para além das
árvores. Para ser franco, estou pronto para outro branco. Estou pronto para
outro caderno. Estou demasiado agarrado ao velho, e isso, não é de espantar.
Por mais que o tranque nunca o tranco e isso, é preocupante. Agora, é
preocupante.
Sinto-me preso a tanta folha tanto que a cola nelas posta,
são as minhas próprias costas. Numa balbúrdia de notas e post-its, de uma
maneira ou de outra lá me vou recolhendo, lá me vou encontrando. Mas, não é
espanto… é o meu próprio branco. É o meu próprio branco, recheado e sobrelotado
de pedacinhos de alma. De pessoas obliteradas por lembranças cuja maioria,
ficaram mal resolvidas. Estou mal resolvido.
Não é espanto, que o Agosto estranhe quando não o acompanho
nas suas madrugadas. De caneta na mão a preencher folhas riscadas, ao som de
ninguém. Hoje é com o nariz entupido, pouca sorte. Respiro só pela boca como se
tivesse dois dedos a apertarem-me as narinas, pouca sorte. Vou buscar letras ao
peito mas nem uma que vem solta, todas enleadas. Pouca sorte.
Custa-me mais olhar para o meu cão deitado na sua cama, do
que para caderno. Faz sentido? Faço eu sentido quando te escrevo sem saberes?
Sem sequer pensares, que é para ti? Sem sequer sonhares, que sou para ti? Não é
espanto, não saberes. Mas ele sabe, o caderno sabe. Melhor que tu e até melhor
que eu, atrevo-me a dizer. Sabe-nos melhor do que eu próprio alguma vez saberei.
Do tanto que eu não te implorei, ou agarrei. Do tanto que eu não sei, ou te
soubesse.
Ronda à volta dos 3-4 minutos. É o tempo que o vento demora
até o próximo chegar. Aquele breve silêncio que faz com que as árvores pareçam
mais pequenas. Aquela breve pausa que me obriga também a parar, para as
respeitar.
Afinal, não somos só
nós que gostamos de respirar fundo.