Contagem infinita. São as vezes
que pego nesta caneta. Nesta esferográfica, de simples concepção, não muito
pesada nem muito leve. O suficiente para executar as suas técnicas de acrobata
na minha mão, rodopiando de dedo para dedo executando o seu treino diário.
Pergunto-me, por quanto mais tempo durará; quando secará. Quando se fartará, de
mim e dos meus agoiros. Dos velórios que dou às frases quando elas me traem.
Pergunto-me, quando estancará a nascente desta água vermelha que me mancha as
folhas. Pergunto-me, se algum dia vai coagular. Se algum dia vou coagular.
- És tão sensual.
- Diz?
- A dançar, aqui comigo. És tão sensual. Mas vamos parar por aqui… Não estou a conseguir.
- Não estás a conseguir?
- Conter-me.
- Diz?
- A dançar, aqui comigo. És tão sensual. Mas vamos parar por aqui… Não estou a conseguir.
- Não estás a conseguir?
- Conter-me.
A ideologia reside na capacidade
de explicar as misteriosas vibrações no peito. Em gravar as ténues imagens que
nos invadem o cérebro, quando o corpo desliga a sua rede electrificada.
A promessa seria que a partir da
promessa, seríamos imunes à febre. Ao súbito descontrolo hormonal. Que seríamos
adultos o suficiente ao ponto de saber evitar os olhos. À fervura paralisante
que o peito tende em libertar até às mãos e lábios. Morfina alucinógena.
(..)