Sabes ao que sentes? Àquele golo de ar seco que dás quando
sentes que vais cair; quando o carro onde estás arranca tão rápido, que nem o
teu próprio corpo consegue acompanhar esse brusco movimento. Essa ofusca
tentação que te dá vontade de agarrar no coração e, massajá-lo para que se
acalme. Tenho-te num patamar, onde nem os segredos mais secretos chegam a
dormir.
Onde não anoitece sem que me despeça de ti com um beijo na
testa, como se esse ritual fosse apenas mais um segundo investido na minha
serenidade. És-me isto…. Calma. És-me dias solarengos em pleno Inverno, és-me
cada estrela no meu céu. És-me o que eu quero que tu sejas, essa história de
começo inesperado onde te procuro e te encontro no mesmo lugar onde te conheci.
E eu conheço-te onde me encontro. Onde me encontro a
entrar-te. Onde nos encontro. Só peço à minha natureza, que não me mude. Que me
mantenha nesta selva de tornados primaveris que me aquecem os pés. As pernas. A
cintura. A barriga. O peito. Os braços. As mãos.
Tenho-te num ponto onde nem eu próprio chegaria; tão alto,
que me faz cócegas nos pés com vertigens. Olho para ti assim, de queixo subido
e olhos cintilantes só porque numa certa altura na nossa a vida acontecem-nos
as chegadas inesperadas. As cortesias pedidas. Os cúmplices olhares e os beijos
quentes. As mãos… O entrelaçar de dedos que te gela cada centímetro de pele,
como se fossemos apenas marionetas de madeira a seguir um guião. É nesse
momento que sinto que mais importante que a temperatura é o súbito metamorfismo
que me fazes sentir… De ser nenhum passei a ser alguém. Alguém que se habituou
a gelar-te as mãos. A aquecer-te a alma. A manter-te vivo. Respiro-te.
Não faço a mínima das ideias, porque nos deram quatro
estações. Para mim só existe uma e é aquela em que as pessoas… Bem, é aquela em
que nos sentimos quentes. Ofegantes. Impertinentes por não compreendermos
porque é que o resto do mundo, não possa também funcionar assim. Penso que lhe
falta mimos. Tive uma ideia: Que achas, se o mimássemos um bocadinho? Não
tenhas receio; dá-me as mãos. Basta tirarmos uma luz desta nossa constelação, e
emprestá-la ao resto do céu. Partilhemos o nosso, para que tudo o resto, ou
todo o resto, possa também brilhar com a nossa estação. Emprestada, claro!
… Aceitas que eu te mime?
Ao dizer-te que sim cairia na vulgaridade, arrisco um…
Preciso que me mimes. Tocar-te é tocar em veludo. Perco-me cada vez que o faço.
Deixo-me levar pela ingenuidade e, como uma criança a tocar numa tomada,
toco-te… com aquele ar de inocência atrevida, aquela hesitação que nos faz
ansiar o preciso momento em que, pele com pele, se fará magia. Debaixo de um
céu estrelado, num Inverno aquecido pelo teu abraço. Fazes-me querer que me
mimes. Que me guardes dos meus males. Que me protejas contra o remoinho que por
vezes, nasce cá dentro. Que previnas que ele nasça. Que o elimines, para
sempre. Que para sempre me fizesses sentir alguém, que ninguém se faz sentir.
Que te implantasses em mim, com a tua impressão digital. Planta-me nos pulmões
a semente do teu cheiro. Cuida dela e rega-a todos os dias, sem falta. Quando
ela crescer, quero um filtro capaz de inalar e exalar a tua qualidade
inconfundível. Apaixonar-me todos os dias? Não. Andar apaixonado.
Deixo
pendente a minha vida para que te possa encontrar. Em cada impressão digital
tua rever o meu nome em traços pouco perceptíveis. Olhar para ti e ver-me
difundida na tua íris. Não é o que queremos?! Eu quero a tua presença em mim
como se tivesses nascido comigo. Procuro na minha infância, que nunca te
conheceu, uma réstia de esperança e apenas encontro o anseio de te ter tido
desde sempre… Podemos nascer de novo? Junta o teu vermelho com o meu. As tuas
penas d’Ouro com as minhas. Os teus olhos flamejantes, com os meus. O teu
corpo? Abafa-o no meu. Dá-me a tua asa direita que eu dou-te a minha esquerda.
Agora fecha os olhos, abre o coração e inspira fundo. Não tenhas medo, minha
pequena. “If you’re a bird, I’m a bird”. Somos Fénix.
Voamos?
Pintemos o céu em tons pastel, grafemos o nosso nome e
atiremos as memórias ao ar. Que ato mais genuíno nos fará sorrir da nossa
loucura? Somos asas perdidas lá no alto, que numa simbiose autêntica tentam
imitar a felicidade, sem saberem que na sua simplicidade são realmente felizes.
Sorrio só de te ler. Mas até quando os dedos no lugar das aventuras? Quero
poder aventurar-me ao teu lado, de olhos fechados saber o rumo que percorres.
Seguir-te em cada trilho, decorar-te a cada passo. Sentir-te por perto. Voa
para cá.
Entretanto, vou já acendendo a lareira. Voa para o meu colo.
Preciso mais do teu calor do que mero fogo. Do teu desafogo, é o que preciso.
Que contradigas a minha vontade de te respirar pura, que de vez em quando me
sufoques com a tua imensidão ilusionista, minha pianista de teclas de marfim,
onde em mim tocas. Realista da minha extensa lista de sabores, e cores. Amores,
surfista do meu rio encarnado. Alpinista das dores do meu muro de gelo, gelado,
azulado. Sinceramente? Nasci no pólo errado.
E é nesta melodia em que me encontro perdida, neste enredo
de rimas que versas sobre os teus joelhos. Vem para cá. Traz-me um pouco dessa
genialidade sem te esqueceres de trazeres contigo o carinho e o mimo de que
preciso. Traz-te a ti, de corpo e alma. Aquece-me, com palavras e gestos… só
porque um coração quente é nada quando ao lado dele não te encontra. Eu
quero-te. Construir aqui, onde os sentimentos moram, algo bonito. Alertemos para
a urgência desta necessidade que nos envolve em palavras, enquanto as acções são
idealizadas no mais bonito dos meus sonhos… tu.
Ahm… Só mais uma coisa, antes de me vestir: Podes só abrir
um espaço no teu armário? Afinal, mudo-me para cá.
Só porque escrever é magia.
Só porque és mágica,
Fénix.
Só porque és mágica,
Fénix.
Escrito em parceria com Liliana Malainho.