Sem gravidade, sem atmosfera. Nasceste fera numa esfera de
emoções, numa revolta sem amanhã. E hoje? Hoje és a verdade. És a profundidade
que assinala o quão baixo chegaremos, o quão fundo é o nosso fundo.
Hoje
ensinas-me que lá no fundo sou só mais ar, do que peso. Que só pertenço à
gravidade. Que só faço parte da tua verdade.
Hoje ensinas-me que amanhã irei sentir-te fresca. A tua pele
fria encostada à minha têmpora esquerda, e a tua palma quente na minha direita.
Hoje, ensinas-me o amanhã. Explicas-me que de manhã, não continuarás a ser
minha. Nisso, és sublime.
És como eu, um gélido apogeu apenas estimulado por arranhões
e amassos. És plenitude sem atitude em demasia, quem diria. És presença, nesses
traços que insistes em deixar-me na parte de dentro do peito. És passos de pés
descalços em bicos de pés. És a atmosfera, ao ser o invés. O meu balanço e a
minha confiança quando me deixo cair para trás, sabendo do que és capaz.
- És como eu, só um rapaz. Só rapaz. – diz a imagem, no espelho.