Doem-me as mãos. Sinto os dedos a latejar, cada osso a
congelar. A caneta a petrificar.
Aborreço-te
se tocar à campainha? Bato à porta, se assim preferires. Não quero é que te
aborreças, por minha causa. Que tenhas que pôr em pausa os teus desenhos animados
favoritos. Os meus preferidos, durante duas semanas. Aborreço-te se te
aborrecer com isto? Com as “as minhas coisas”, eu sei. Desculpa, minha
pequenina. Prometo ser breve.
Tenho-me sentido leve, sabias? Tenho-me sentido bem, nesta
ausência insubordinada entre o teu carinho, e o meu. Tenho pisado e saltado de
nuvem para nuvem, mas, infelizmente tenho que descer quando o Sol sobe.
Hoje lembrei-me de ti. Aborreço-te?
Olhei para as fotografias à tua procura e só depois é que me apercebi, que já
não te tinha lá mais. Só depois, é que a minha garganta se enrolou como um nó à
marinheiro. Apaguei o teu físico das minhas lembranças físicas e custa-me o
mundo, saber que o fiz. Eventualmente vou esquecer o teu sorriso traquina, mas
nunca do número de dentes que te faltavam. Nunca. De ti, nunca.
A madrugada vai a meio e eu já estou a mais de meio caminho,
de me manter o restante meio, acordado. Enfiado nas mantas, atordoado. Agarrado
à caneta a tentar que ela aqueça. Se continuar gelada, que me esquente o coração,
pelo menos. Posso pedir-te que quando os bonecos acabarem, que passes pelo hall
de entrada e retires as cartas do correio? As últimas que te enviei voltaram
para trás. Deve-lo ter deixado chegar ao limite. Deve estar entupido.
Sinto imenso a tua falta. Sabes disso, não sabes? Espero que sim.
Quando as palavras me tocam, eu choro. Fizeste-me chorar. Adorei.
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