segunda-feira, 31 de maio de 2010

Refúgio validado.


Não vale apena escrever textos onde as palavras são sempre as mesmas, mas ditas de forma diferente. É sempre tudo igual: Os mesmos pretextos, as mesmas lamúrias, os mesmos desabafos. São escritos de forma diferente, mas a base primária, é sempre a mesma.
É exactamente isso que preenche aquele caderno, podre e rasgado, já cansado da variedade de tintas que lhe sujam as belas folhas. Encostado a um canto, com pó por cima da capa, vai tossindo a cada suspiro que despejo ao ar. Mais parece que se está a afirmar, a querer que o ouçamos, a querer que lhe troquemos as folhas borradas por uma história nova. É disso que o caderno precisa, de uma história nova. Daquelas ardentes e flamejantes que fervilham por todas as páginas. Tal e qual como as primeiras páginas que recebeu à uns anos atrás, mais precisamente à 18. Foi-se preenchendo e preenchendo cada vez mais, até hoje. Aquele caderno que eu pensava que teria um prazo de validade infinito, fechou-se hoje a cadeado. Não me deixa escrever mais nada, nem sequer tentar apagar aquelas letras imundas, que envenenam todas aquelas frases que outrora foram escritas.
Tudo desaparece, nada fica para sempre. As promessas do confidente e da melhor amiga, esvoaçam agora pelo ar. Essas que outrora se alojaram cá dentro, mas não de forma firme. Hoje sinto que não vieram com intenção de ficar, mas sim com a intenção de me iludir e de me fazer crescer. Odeio-vos e amo-vos por isso, meus aldrabões de primeira classe! É claro que sem a melhor amiga nunca poderia desabafar com o confidente, é claro que sem a inspiração, o caderno tornava-se inútil. Coisas vêm e coisas vão, assim como algumas partem e outras ficam. Cadernos como àquele garanto que já não existem, e inspirações como a rainha que vive cá dentro de mim muito menos. Provavelmente precisam de descanso, todas aquelas batalhas desgastaram:

As letras são o meu refúgio,
O meu esconderijo e o meu abismo.
Desaguo nelas como um dilúvio
Capturando a verdade e o realismo.

Navego para lá do muro,
E resolvo cada adivinha.
Faço do caderno o meu porto seguro,
E da inspiração a minha rainha.


(…)

9 comentários:

  1. Não sei bem o que te dizer,ou por outra, por estar a passar uma fase em que também perdi alguém com que confidenciava tudo, e por não ter uma opinião bem formada, as palavras faltam-me, Desculpa. No entanto, e como referiste "Coisas vêm e coisas vão, assim como algumas partem e outras ficam", mas a vida continua e haverás sempre um amanhã.
    Continua a refugiar-te na escrita, essa não te vai abandonar, nunca.
    Beijinhos

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  2. está tão mas tão lindo andré :o
    percebo-te tão bem, que parece que foi escrito por mim, e oh, como eu desejava conseguir escrever assim. deitar cá para fora.
    continua *-*
    «3

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  3. Está perfeito André.
    E mesmo que se comece uma história nova, o que por vezes é necessário mesmo que não o saibamos, a 'velha' vai condiciona-la, quer queiramos quer não.

    beijinho

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  4. a taça enche , com tempo mas enche, a minha, a tua, a de todos os que não desistem de ter algo diferente para escrever todos os dias.
    tudo vai e volta, os desabafos vêem e vão, e tal como tu, tenho sempre os mesmos desabafos, que para mim não passam de lamurias inúteis.
    Mas nada fica igual para sempre, nem para mim, nem para ti :)

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  5. ai adorei André! obrigada, a ideia é linda.

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  6. Está lindo o texto :o
    Esse caderno pode não te deixar escrever mais nada, pode estar encostado a um cantinho, mas tirá-lo de lá só depende de ti (:

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  7. Esse teu jeito para as palavras suaves não desapareceee *

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