segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Metáforas


Um caderno, folhas em branco e uma caneta. Um calendário sem marcações, sem deveres nem obrigações. Ar livre e por fim, alguém que me faça pegar numa caneta. Alguém que me faça abrir um caderno e, na folha certa, me faça escrever o que nunca antes escrevi. Isto, é tudo o que peço, é tudo o que sempre irei pedir.
Tenho pena de ter perdido tanto tempo, de olhos fechados e mudos, e de ouvidos cerrados e surdos. De todos os dias, ter que descer à minha cave para alimentar um desejo, que afinal, só precisava que lhe abrissem as janelas e que o deixassem respirar. Tenho pena, de não ter arejado a casa mais cedo. Mas claro, não vale de nada apenas fechar o passado dentro de um armário, a sala onde ele se encontra também tem que ser selada. E quando as saudades exigirem visitarem essa sala, talvez seja melhor entrar lá dentro com aqueles fatos especiais, não vá o passado querer outro abraço.
Não escondo que passei muito tempo fechado dentro desta minha residência. De portas trancadas e de cortinas fechadas, para que ninguém me pudesse ver. Com tudo desarrumado e espalhado por toda a parte, como se a vontade nunca tivesse vivido comigo. Mas o sítio mais desarrumado de todos, tirando o quarto, era o sótão, sempre foi. Esse meu velho lugar, estava repleto de tralha até ao topo, cheio de coisas insignificantes. Mas a paciência era escassa, e eu em vez de a tentar recuperar, troquei-a por descanso. Troquei-a por horas de volta dos meus velhos cadernos, sentado numa poltrona, que acabou por adquirir a forma do meu corpo.
Escrevi e escrevi. Escrevi sobre tudo, praticamente tudo. Sobre a vida, sobre a morte, sobre as pessoas, os animais, sobre a terra e sobre o mar. Até sobre as almofadas, essas que independentemente do que se passava, sempre se mantiveram fiéis, prontas para me amparar. Mas para além de escrever horas a fio, para além de tentar reflectir sobre tudo, a ambição de evoluir a escrita também existiu, e ainda existe, como é óbvio. E pessoalmente.. acho que não evoluí coisa nenhuma.
Depois de tanto tentar escrever com primor,
Ainda me acho principiante, um aspirante a amador.
Tento evoluir, superar e subir de patamar,
Mas nem o rés-do-chão sinto ultrapassar.
Talvez esteja,
A ser modesto em demasia,
Ou talvez seja,
A ser mais parvo do que devia.
Mas suposições, é o que tenho em maioria,
Deitam-se comigo e acompanham-me todo o dia.

Mas sabes o que te digo, meu velho caderno ? Não desistas, que eu também não. Com certeza vai aparecer alguém que sirva de ambi-pur para esta velha casa. E que bem que está a precisar, não achas ?