quinta-feira, 22 de julho de 2010

Confissões (?)

Confesso, que não sou mais do que uma ventoinha acesa para me refrescar. Que não sou mais do que noitadas abafadas em frente a um monitor. Que não sou mais do que aquelas persianas, que já estão imóveis há mais ou menos uma semana. Que não sou mais do que uns lençóis amarrotados, nem sou mais do que uma almofada, que continua gélida e ansiosa por se afogar nos meus cabelos. Confesso, que não sou mais do que aquilo que dizia ser, e que nunca serei mais do que aquilo que sou. Confesso, que não sou mais do que míseras letras, que insistem em formar linhas de palavras e sujar o magnífico branco, que têm feito questão de fazer companhia àquelas folhas. Por mais mentirosas ou verdadeiras que possam ser, o branco nunca lhes pede a verdade da mentira, nem que lhe mintam sobre a verdade, pois ser mentiroso pela verdade pode custar verdadeiramente caro, desejando um dia mais tarde que tudo fosse mentira. Tal como eu, anseiam que um dia, alguém tenha a coragem para pegar numa esferográfica e rabiscar, sejam esses rabiscos verdadeiros ou não. Só peço que nos sujem. Que nos sujem de tinta, seja ela de que cor for, branca ou invisível, tanto faz. Só peço é que em cima de nós, pousem letras, daquelas com trincos e aberturas, como as peças dum puzzle. Gostava muito de prender as letras umas nas outras, de formar palavras e frases longas, daquelas que afectam toda a gente, e ao mesmo tempo, que não afectem ninguém. Notem que o que acabei de dizer, é outra suposta confissão. Não daquelas que doem cá dentro, mas sim daquelas que fazem companhia a tantas outras que adormecem a meu lado, deixando a minha cama sem espaço para mim e amarrotando-me os lençóis. Daquelas que esvoaçam pelo quarto inteiro, ao sabor do vento da ventoinha, que de vez em quando lá me consegue constipar. Daquelas confissões que me vão mantendo a janela aberta, segurando também uma persiana já virada na diagonal. Daquelas confissões, que me fazem escrever textos imundos e sem sentido algum para um possível leitor. Daquelas confissões, que me fazem confessar, de que um dia conseguirei juntar tais letrinhas e fazer magia por esse mundo fora. Daquelas confissões que me fazem querer dizer: “Aguenta, espera, tem paciência. Hoje ainda não é o dia.”