quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Rex

Ainda me lembro do quanto gostava de ti, das tantas e inúmeras vezes que te o disse, olhos nos olhos. Ainda me lembro da tua espectacular boa disposição diária, independentemente do calor, da chuva, do frio e do vento. Ainda me lembro da tua voz a ecoar dentro da minha cabeça, como se me estivesses a tentar chamar à razão ao tentar chegar à minha consciência. Ainda me lembro das tantas e inúmeras vezes que dormiste ao meu lado, e que nos dias de mais frio, eu permitia que tu te enroscasses nas minhas mantas. Ainda me lembro das tantas e inúmeras vezes que me lembrei de tudo isto, só para tentar manter vivo o teu espírito dentro de mim, da minha memória.
Nunca cheguei a saber se fui a pessoa indicada para o papel a que fui submetido, e ainda hoje vagueio sobre essa mesma pergunta, que me intriga a cada dia 24 de cada mês. Tu partiste e como enigma, deixaste que essa questão se entranhasse confortavelmente na minha mente. Não te censuro, nem te julgo. Foi uma boa jogada da tua parte, não tenho dúvidas disso. Consegues manter a tua memória viva dentro de mim, mesmo não estando presente. Ainda por cima conseguiste fazê-lo a uma pessoa como eu, que não se prende às memórias do passado, nem mesmo quando o assunto se trata de um membro da família.

- Tu não pertences à família, rua. – estas foram as palavras “deles”.

Peço desculpa se só te estou a dizer isto agora, mas para mim pertences. Foste muito mais sincero e verdadeiro que muitos membros da minha família que ainda hoje vivem. Não foi justo partires, não foi. Mereces e merecias tudo; Tudo menos a morte.
As palavras que escrevi para ti, ainda estão guardadas, e de certo que irão estar até ao resto dos meus dias. Mais uma vez, relembro-tas:

A justiça não foi justa,
Viveu da crueldade.
Partiste e tudo custa,
É triste mas é verdade.

Continuas cá dentro,
Bem vivo e flamejante.
Cresce ao sabor do vento,
Sê triunfante.