sábado, 1 de maio de 2010

Hoje e para sempre


Hoje estou muito seco,
Não consigo fazer nenhuma rima.
De nada me lembro e de tudo me esqueço,
Pois sinto vários arrepios a subirem-me pela espinha.

Desfocam-me a visão
Por momentos indeterminados.
Escurecem-me o coração
E deixam-me os sentidos compactados.

Sinto o meu corpo mole,
Como se tivesse a andar em corda bamba..
Já nem em mim tenho controle,
Já tudo em mim descamba..

Tanto amor e tanto ódio
Que ainda tenho por espalhar..
Um caminho longo até ao pódio
Ainda tenho que caminhar..

Mas não sei.. não sei se serei capaz
De vencer e ultrapassar as minhas capacidades.
Pois já não sei.. se este mero rapaz
Tem o que é preciso, para criar felicidades..

(Os arrepios pararam, acho que já se instalaram em todo o meu corpo. Já não sinto os ossos como sentia antes, rijos e cheios de força. Já não sinto o sangue como sentia antes, ardente e flamejante. Já não sinto os meus sentidos como sentia antes, apurados e aguçados. Já não.. já não sinto nada como sentia antes. Já não me sinto mais em mim, acho que fugi para um lado qualquer.. Devo andar por aí, perdido, a esvoaçar entre as mentes mais dementes. A enganar e a encantar aqueles mais eloquentes, apesar de eu não ser um deles. É pena, pois ainda tenho tanto amor e tanto ódio por espalhar. Mas não faz mal, não faz mal enquanto eu ainda acreditar que ainda existe por aí, alguém, que saiba assentar esta minha alma selvagem, neste meu corpo ensinado, amaldiçoado. Um dia vou gritar, vou gritar entre o silêncio e quebrar estas paredes de vidro, que para mim projectam a sua força, à espera que eu desista.. Um dia vou rebentar, com as escalas deste universo. Um dia vou-me apaixonar, e vou deixar este mundo submerso, de ódio e de paixão, que me converte em ilusão e que me prende, nestas paredes pintadas de escuridão. Um dia.. um dia.)