domingo, 18 de abril de 2010

Incompreendido


Toda a minha vida,
Faz parte de um teatro, onde nele é encenada.
Toda ela me é querida
Excepto a parte, de mentirem à descarada..

Percebo que é para meu bem,
Que é para me protegerem..
Mas porque é que o fazem
Se descubro mesmo sem eles perceberem ?

É que não faz sentido nenhum,
Se eu eventualmente acabo por descobrir tudo.
Já não sou nenhuma criança,
Já passou aquela fase em que faziam de mim surdo..

Andava tudo aos segredinhos,
Cada um na sua ribalta.
Preferiam comunicar por papelinhos,
Do que falar em voz alta..

Agora percebo,
Porque é que não queriam que eu soubesse.
Não tinha com quem falar,
Não tinha com quem desabafar..

Mas agora acabou,
Já me tornei gente.
Agora já sei quem sou,
Agora, agora já é diferente..

Agora, aqui, já tenho um objecto a meu dispor,
Pronto para me servir.
É ele que absorve o meu calor,
É ele quem me faz distrair.

Nele escrevo palavras,
Que me esvoaçam pela cabeça.
Mas com certeza, não são contos de fadas
Nem nada do que se pareça..

São visões macabras,
São contos mortais..
Essas são as palavras
Que me perfuram os pontos vitais !

Palavras que outrora me foram negadas,
Impossibilitando-me de crescer.
Que no passado foram apagadas,
Mas que hoje.. renascem para eu ver.

É com elas que rasgo estas folhas,
Pertencentes a este objecto.
É com elas que faço as escolhas
E que vejo se estou errado ou correcto.

Mas..

O menino surdo já morreu,
Já cá não está mais..
À minha frente faleceu
Aquele que foi criado pelos pais.

E, resumindo assim, muito rapidamente..

Todos nós, passamos por fases interditas
De mentiras e loucuras.
Acabamos por destruír as coisas bonitas
Para as enterrarmos em sepulturas..

Se não me perceberem,
Entendo perfeitamente..
Às vezes nem eu me percebo,
Nem que me releia exaustamente..