sábado, 21 de junho de 2014

Duo.


Sem gravidade, sem atmosfera. Nasceste fera numa esfera de emoções, numa revolta sem amanhã. E hoje? Hoje és a verdade. És a profundidade que assinala o quão baixo chegaremos, o quão fundo é o nosso fundo. 
Hoje ensinas-me que lá no fundo sou só mais ar, do que peso. Que só pertenço à gravidade. Que só faço parte da tua verdade.
Hoje ensinas-me que amanhã irei sentir-te fresca. A tua pele fria encostada à minha têmpora esquerda, e a tua palma quente na minha direita. 
Hoje, ensinas-me o amanhã. Explicas-me que de manhã, não continuarás a ser minha. Nisso, és sublime.
És como eu, um gélido apogeu apenas estimulado por arranhões e amassos. És plenitude sem atitude em demasia, quem diria. És presença, nesses traços que insistes em deixar-me na parte de dentro do peito. És passos de pés descalços em bicos de pés. És a atmosfera, ao ser o invés. O meu balanço e a minha confiança quando me deixo cair para trás, sabendo do que és capaz.


- És como eu, só um rapaz. Só rapaz.  – diz a imagem, no espelho.