sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Rewind.


Já passou tanto tempo e eu continuo aqui, madrugada após madrugada, face a um caderno que possivelmente irá continuar branco durante as próximas horas, durante as próximas noites. As memórias vão-se acumulando, a intensidade vai-se intensificando à medida que o Sol troca com a Lua. As ondas vão crescendo oscilando este minúsculo barco. Sinto a corrente a puxar quando meto o remo na água. O rio respira para a minha direita, em direção a Oeste. As amarras que seguram a minha cintura, já apresentam folga e duvido que me aguente em cima dele por muito mais tempo. O ar gelado arranha-me a garganta e o nariz, os ossos das mãos doem quando as tento abrir, parecem a corrente da bicicleta quando passa tempos sem óleo. Admito que vim para aqui despreparado. Despreocupado, será o termo correcto. De t-shirt, calções e chinelos sem qualquer chapéu ou óculos de sol. Sem qualquer casaco, sem qualquer muda de roupa. Sem espécie alguma de cansaço, qualquer necessidade de dormir ou de comer.



Água. Kilómetros e litros de água por tudo quanto é lado, em todas as direções. Já falta pouco para chegar à cascata, esteve mais longe à uns quantos metros atrás. É estranho. Sigo em direção a ela mas a água parece não cair, será apenas impressão minha? Parece que a vejo subir cascata a cima, a saltar ferozmente de um lado para o outro a tentar chegar ao objectivo, parecem as crias de um tigre a lutar entre a ninhada pelas maminhas da mãmã, pelo leite. Quem não bebe, não cresce. E quem não cresce, não sobrevive. Será esse o significado de tudo isto? Para eu crescer? O mundo não espera por ninguém, isso é verdade, mas gosto de pensar que o mundo nos espera. Que se prepara para a nossa chegada, planeando todo o nosso percurso enquanto nele habitamos. Mas não aguarda caso falhemos a 1ª etapa. Ou a 2ª. Ou a 3ª. Não espera, e é disso que devemos estar cientes. Estou consciente disso, portanto suponho que não seja esse o motivo que me leva a estar aqui. Porra! Fico mais frustrado do que curioso, é verdade, mas os sonhos não se repetem, só no tema. E se eu não voltar aqui? Se eu não voltar a ver esta cascata? Irei perder alguma coisa? Tenho a sensação que sim...
De qualquer maneira, mais vale estar preparado para as futuras visitas. 
Prometo trazer roupa mais quente.