sábado, 21 de junho de 2014

Duo.


Sem gravidade, sem atmosfera. Nasceste fera numa esfera de emoções, numa revolta sem amanhã. E hoje? Hoje és a verdade. És a profundidade que assinala o quão baixo chegaremos, o quão fundo é o nosso fundo. 
Hoje ensinas-me que lá no fundo sou só mais ar, do que peso. Que só pertenço à gravidade. Que só faço parte da tua verdade.
Hoje ensinas-me que amanhã irei sentir-te fresca. A tua pele fria encostada à minha têmpora esquerda, e a tua palma quente na minha direita. 
Hoje, ensinas-me o amanhã. Explicas-me que de manhã, não continuarás a ser minha. Nisso, és sublime.
És como eu, um gélido apogeu apenas estimulado por arranhões e amassos. És plenitude sem atitude em demasia, quem diria. És presença, nesses traços que insistes em deixar-me na parte de dentro do peito. És passos de pés descalços em bicos de pés. És a atmosfera, ao ser o invés. O meu balanço e a minha confiança quando me deixo cair para trás, sabendo do que és capaz.


- És como eu, só um rapaz. Só rapaz.  – diz a imagem, no espelho.

10 comentários:

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    1. Grazie Mariana!
      Segui o teu cantinho, keep it up :)

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    2. ohh, muito obrigadaa :) estes teus textos são um miminho tão bom de ler :')

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  2. Dir-te-ia que és mais do que esse reflexo no espelho. A essência de cada um de nós encontra-se no beco mais profundo de nós mesmos. Só uma ínfima parte daquilo que verdadeiramente somos, transparece aos olhos dos demais. Não precisei de ver a cor dos teus olhos para saber que o castanho te fica bem. Há pessoas assim... que pela essência nos marcam. Não é?

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    1. A nossa "essência" é tão mínima, tão solene que não nos apercebemos que sabemos dela todos os dias. Que a encaramos todos os dias. Acho que estamos todos demasiados preocupados em cavar até à pedra, em esgravatar uma lama que pensamos que esconde quem nós somos. Acho que perdemos demasiado tempo, em tentar achar o nosso ponto fraco; numa preocupação de como é que o podemos esconder e defender. Entretanto, nesse processo, encontras alguém com a cara cobrida com a mesma lama que te sujou as mãos, quando andaste no meio daquele poço, de joelhos, a esgravatar. Esbugalhas os olhos e surpreendeste, mas não por a pessoa estar toda suja e 'porca'. Surpreendeste, porque a cor da lama é a mesma que te ficou presa debaixo das unhas. Surpreendeste, por finalmente perceberes que afinal, não somos assim tão diferentes uns dos outros. Surpreendeste porque alguém aparenta usar a tua essência. Ou quem sabe... talvez a tua seja a minha também e, a nossa de todos os outros. Não é?

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    2. Essências são peças de puzzles. A tua poderá encaixar na minha, assim como poderá encaixar também em tantas outras que tu próprio desconheces. No entanto, a tua essência nunca será minha; nem a minha será tua. A tua saberá, porém, cada milímetro da minha peça de puzzle, cada cor nela esbatida. A minha, por sua vez, será o teu balanço e a tua confiança quando te deixas cair para trás... porque eu sei que sou capaz.
      Será?

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    3. Embora puzzles, sim, mas cada qual com o seu padrão. Cada qual com a sua dimensão e número de peças. Panoramas diferentes. Peças de rebordo redondo, de quatro ou de um só encaixe. Somos todos um puzzle diferente ou, pertencemos todos ao mesmo? Somos uma peça que se encaixa em duas ou deixamos que quatro se encaixem em nós?

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  3. Somos um só puzzle numa coletânea deles. Somos uma peça de encaixe duplo, embora sejamos paupérrimos na ausência das restantes. Somos antíteses sem começo nem fim. Somos o sol e a lua. O nada e a imensidão. O perto e o longe. Antagônicas, porém harmoniosas... Não é assim que as peças de puzzle devem ser?

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