sexta-feira, 19 de maio de 2017

Insosso.


Madrugada de Sábado.
Anestesiei-me com nicotina.
Tenho tantos gritos em mim quanto um maço de Marlboro. Por cada bafo e fumo trancado, menos ensurdecedor fica o mundo. Mais sossegado fica o silêncio.

- Shh! Não grites!

Perdi-me algures em mim. Sempre achei que a terminologia do verbo "perder" fosse sofrer alterações caso me submetesse a uma ausência de lucidez.
Nasci céptico num seio onde fazer torradas às quatro horas da madrugada era insensato. Mas talvez o mais preocupante não fosse o abuso no uso da manteiga, e sim percorrer o corredor de luz apagada.

- Pára! Já te pedi para não falares tão alto!
- Mas já viste o que está escrito na porta do frigorífico?

"Toma nota: Desenha uma porta na folha. À porta, uma garrafa cheia e sem rolha. Sem rótulo, o líquido de cor vermelho-tinto rosna e faz-se presente." 

És tão testemunha como o suspeito do costume, igual a um alguém sem perfume. Por isso testemunha, e toma tu nota: Hoje o cheiro do meu incenso é tão insosso como o líquido da garrafa. Tão intenso, tão imenso que eu não dispenso suspiro algum. O incenso tonifica o momento e o pensamento, é o meu retiro.

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